Preocupação no cardápio olímpico!

Às vésperas do início dos Jogos Olímpicos foi divulgado que o controverso prato foie gras – feito com alimentação forçada de patos e gansos – está presente no menu oficial do evento deste ano, causando preocupação dos amantes e defensores dos animais.

Os Jogos de 2024 acontecerão em Paris entre 26 de julho e 11 de agosto e têm como objetivo ‘entregar um gostinho da França de maneira responsável’. Os organizadores afirmam ser ‘focado em mostrar uma culinária francesa que é adquirida, produzida e consumida de forma responsável’, sendo 80% das refeições fornecidas de origem local. Numa tentativa de disponibilizar opções sustentáveis e ecológicas, cerca de 60% das 13 milhões de refeições serão isentas de carne.

Mas apesar de promover ‘leaf over beef’, ou seja, mais vegetais ao invés da carne, o foie gras fará parte do menu e será servido durante todo o evento. Em uma declaração por escrito, os responsáveis pelo fornecimento da alimentação disseram: “O foie gras não será oferecido como prato independente em nosso programa durante as Olimpíadas. No entanto, algumas receitas podem incluí-lo como ingrediente, por exemplo, em patês”.

Feito por alimentação forçada, o foie gras é um produto altamente polêmico. Milhões de patos e gansos todos os anos são forçados a consumir quantidades não naturais de alimentos, fazendo com que seus fígados aumentem em até dez vezes o seu tamanho natural. Cada ave será alimentada à força duas ou três vezes ao dia durante várias semanas, procedimento que pode acontecer mais de 60 vezes antes do abate.

A Animal Equality, uma importante organização internacional de proteção animal conhecida pelas suas investigações em fazendas e matadouros, conduziu mais de 10 investigações sobre esta indústria na França e Espanha desde 2012. O grupo reuniu centenas de horas de filmagens revelando aves confinadas em gaiolas de arame, sofrendo de dificuldades respiratórias, infecções oculares, além de asas e bicos quebrados.

A divulgação do cardápio olímpico veio depois que a Animal Equality abordou o Presidente, o Diretor Geral e o Diretor Executivo do Comitê Olímpico Internacional em abril. Em carta, a presidente e cofundadora da Animal Equality, Sharon Núñez, aplaudiu os esforços do Comitê para promover a sustentabilidade ambiental e solicitou a confirmação de que o foie gras não seria disponibilizado, escrevendo que servi-lo seria “totalmente desalinhado com o espírito do evento’.

A organização de proteção animal não recebeu resposta, mas através de trocas de e-mail com os fornecedores dos Jogos, foi descoberto que o foie gras será servido aos hóspedes que adquiriram pacotes ‘premium’. A On Location – empresa responsável por negociá-los, além de fornecer comida e bebida para os Jogos de Paris 2024 – está vendendo ingressos que variam de 85 euros a mais de 9.500 euros. A On Location se orgulha de pacotes que incluem champanhe e ‘um menu gourmet internacional com pratos regionais franceses exclusivos e outros que ‘apresentam especialidades culinárias regionais internacionais e francesas ‘.

Marie-Pierre Pe, Diretora do Cifog – órgão que representa os agricultores de foie gras – afirmou que a indústria está aumentando sua produção “na preparação para o grande evento que são os Jogos Olímpicos”.

A produção feita por alimentação forçada está concentrada em vários países, incluindo França, Espanha e Hungria, mas é proibida em vários outros, como a Dinamarca, Alemanha, Polônia, Noruega, Luxemburgo e Turquia. Em 2014, a Animal Equality pressionou com sucesso o governo indiano para interromper as vendas de foie gras, um movimento histórico que tornou a Índia o primeiro país do mundo a proibir sua importação e produção.

Sharon Núñez, presidente e cofundadora da Animal Equality, disse: “As Olimpíadas são um farol de união internacional, realização humana e amizade. Servir foie gras – um produto elitista, cruel com os animais e ilegal em muitos países – é decepcionante para quem acredita na igualdade e na solidariedade e vai contra o espírito dos Jogos”.
O chef gastronômico francês com estrela Michelin, Alexis Gauthier, é proprietário do premiado e sofisticado restaurante londrino Gauthier Soho. No seu pico, o restaurante servia 20 quilos de foie gras por semana, até 2018, quando Gauthier passou a servir ‘faux gras’ – uma alternativa feita de tofu, castanha de caju ou cogumelos. Falando sobre o cardápio dos Jogos, Gauthier disse: “Imaginar os participantes comendo o fígado doente de um pato ou ganso torturado nos Jogos Olímpicos é, no mínimo, chocante. Eu também estou imensamente orgulhoso da minha herança francesa, mas certamente não estou orgulhoso da alimentação forçada de animais inocentes e o Comitê também não deveria estar”.

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