Adriano dos Santos

Respeito e Sensatez!

IMG_8312
Foto de Ramon Magela

Há 13 anos conheci o Adriano por indicação de uma amiga que me via passear todos os dias com o meu cachorro. Ela me passou o contato dele, dizendo que era um ótimo adestrador. Então o procurei para contratá-lo. Dedicado, estudioso, participativo, dinâmico e principalmente objetivo, Adriano é realmente um profissional de altíssima qualidade. A personalidade firme é um dos itens que acredito ser absolutamente necessária nesse trabalho. Aquele equilíbrio entre o respeito ao cão e a  firmeza de comando. Adriano vai além, conhece as características de cada cão. Mais que de cada raça, porque cada cão é diferente. Ele foi o meu primeiro entrevistado quando comecei a me dedicar à mídia direcionada aos animais, especialmente pets. Já o entrevistei em jornal, aqui no blog e onde tenho oportunidade quero que as pessoas o ouçam e pensem no que ele diz baseado em conhecimentos adquiridos com muitos estudos, em congressos e escolas especializadas e, principalmente pelo amor verdadeiro que tem pelos animais. Essa entrevista foi mais focada no que está rolando hoje sobre “humanização” dos cães, “protestos contra criadores”, etc. Uma abordagem em torno dessa  era atual quando a tecnologia  vem transformando tudo e todos e a gente tem que estar muito mais atento do que imaginamos.

“Lembre-se de que o cão dependerá de você por 14 anos ou mais. E uma vida não é para ficar em 2º plano”

 

Marcos Moreno -O cão é um animal tão doméstico que a descendência do lobo está ficando cada vez mais distante. Algo está passando dos limites?
Adriano dos Santos– Bom…isto é a nova ciência quem está dizendo. Deixarei para a nova geração tirar suas próprias conclusões.

Marcos- Há um modismo de militância em todas as áreas. Sabemos que há pessoas que participam de manifestações de tudo, mas sem analisar racionalmente o que está fazendo e, pior, sem colocar a “mão na massa”. O que você pensa de manifestações contra criadores de cães?
Adriano- O que precisa ser feito é uma divulgação cultural e não sensacionalismo. Separar os criadores profissionais dos de “fundo de quintal” (esses estão preocupados apenas em lucrar. Criadores sérios se preocupam com a qualidade do seu plantel (cães selecionados para a criação, respeitando as exigências dos padrões de raças conforme os Kennel Clubes nacional (CBKC- Confederação Brasileira Kennel Cinofilia) e internacional (FCI-Federação Cinologica Internacional)

Marcos– Humanizados ou robotizados? Existem coleiras eletrônicas que fazem cães obedecer a comandos. Algumas pessoas humanizam demais outras estão robotizando. Que bagunça é essa?
Adriano-Os cães se tornaram membros da família, isso é inegável. Porém as pessoas se esquecem ou, simplesmente ignoram, que eles são animais com diferentes necessidades das nossas. Isso deve ser respeitado e estimulado para o bem estar físico e mental do cão.
As coleiras eletrônicas não passam de ferramenta de trabalho para profissionais da área (não para leigos aventureiros). Cabe aqui uma observação: deveria ser vendida para alguém comprovadamente capacitada, pois leigos colocam em cheque, tanto o adestrador, quanto a ferramenta.
A coleira eletrônica poderia ser comparada ao controle remoto da sua televisão. À distância você aciona os comandos, etc.
Quanto a “robotizar”, para mim é você tirar o direito de “errar” do cão. Em um trabalho de adestramento moderno, isso é permitido e saudável.

Marcos– A internet disseminou imagens de pessoas fazendo “milagres” com cães. Dá pras pessoas desconfiarem de alguma coisa fake?
Adriano– Sim. Um trabalho com cães é complexo, depende dos fatores ambientais, temperamento dos indivíduos envolvidos (família e cão) e etc. A internet faz parecer que é só estalar os dedos e tudo se harmoniza. Porque o sensacionalismo traz audiência. O conforto trás preguiça. A preguiça trás o desleixo. O desleixo trás a eutanásia/abandono.

Marcos- É comum transferirmos para nossos cães nossas frustrações e desequilíbrios emocionais?
Adriano– Sim. Os cães passaram a preencher de alguma forma o vazio, seja em nossa casa, seja em nossas vidas. Nossas inseguranças, a síndrome do ninho vazio e até mesmo nossos valores (aquilo em que nós acreditamos)

Marcos– Fazendo um paralelo tosco, tentando dar um toque de “engraçadão”, pergunto: com a vida, quem tem mais facilidade de aprender, o homem ou o cão? Rsrsrs
Adriano– Ambos aprendem, cada qual com sua capacidade e necessidades. No adestramento a dificuldade está no tutor, em mudar seus hábitos em relação ao cão. Os animais simplificam. Os humanos dificultam.

 

IMG_8313

Marcos– O que mais tira você do sério na relação entre homem e cão?
Adriano– Como eu disse, é a falta de respeito para com o cão, não os respeitando com sua condição natural, de que são animais. As pessoas tendem a forçar coisas ou situações que são normais para eles. Eles não conseguem codificar (assimilar) coisas complexas. Eles entendem o tutor e não as necessidades humanas. Hoje eles estão humanizados na cabeça dos humanos que querem que eles tenham um raciocínio lógico, a ponto de chamá-los de burros (um “elogio” humano para quem é desprovido de inteligência) em algumas situações. Exemplo: o carro está vindo e o cão atravessa a rua. Não respeitam as raças de cães. Ora! Para que existem os padrões de raças, suas classificações e divisões em grupos, etc?
“Querem transformar o rottweiler em goldem”.
Antes de adquirir um cão, procure se informar para qual propósito esse cão foi criado. E se VOCÊ está dentro do perfil dele.
Marcos- Sempre me pergunto onde estão com a cabeça as pessoas que criam cães de grande porte em apartamento. O que você tem a dizer sobre isto?
Adriano- Sem problemas. Os cães são animais de toca e quanto menor o espaço, mais seguros eles se sentem. Eles não podem é ficar sedentários. Os tutores precisam fazer os exercícios diários, passeios, brincadeiras para eles desenvolverem a parte cognitiva e não ficarem entediados. Os pisos não podem ser escorregadios, principalmente na fase de desenvolvimento do filhote. O cão terá sempre um lugar perfeito para passar o tempo e não ficar andando ou correndo sem motivo. Ele poderá viver em um espaço de 100 m², se não tiver estímulo, será igual ou pior que viver em um cubículo.

Marcos-Você se tornou um empresário no segmento de hotel para cães. Para isto é necessário muito espaço? O que é fundamental em um hotel?
Adriano– Em um hotel para cães você precisará de espaço suficiente para o cão se movimentar e fazer suas necessidades do lado oposto à cama dele. O fundamental em um hotel para cães é o manejo e a dedicação (muitas vezes se abdicar de algumas coisas). Acho que não preciso dizer que tem que gostar de cães, né?
Marcos- Quer deixar alguma mensagem para nossos leitores?
Adriano- O cão é para ser prazeroso e não um problema. Portanto, seja sensato antes de adquiri-lo. Certifique-se de que terá tempo, dinheiro, espaço (na sua vida) e dedicação. Não aceite um cão só porque foi um “presente”. Lembre-se de que o cão dependerá de você por 14 anos ou mais. E uma vida não é para ficar em 2º plano.

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *