Resgates trágicos
Um dos acontecimentos mais impactantes do Brasil nos últimos dias foi a tragédia provocada pelas fortes chuvas em Minas Gerais, fato que já é histórico e confirma a tendências das grandes catástrofes previstas em função do aquecimento global. A todo instante estamos assistindo cenas de depoimento de pessoas que perderam tudo nas enxurradas e transbordamento de rios, cenas de enterros de vítimas dessa grande tragédia. Por ser a razão da existência do blog, fomos procurar informações sobre a situação dos animais que também estiveram ou estão no cenário de destruição causado pelas tempestades. Falamos com Phriscylla Pires, coordenadora do curso de Medicina Veterinária do UniBH
Marcos Moreno- Naturalmente as famílias atingidas pelas fortes chuvas tinham animais de estimação. Há relatos de perda desses animais?
Phriscylla Pires– Muitas famílias foram atingidas pelas fortes chuvas na região metropolitana e isso é muito triste. Percebemos que o poder público tem maior preparo para lidar com situações como essas, avisando e prevenindo maiores tragédias. Vimos a sociedade se mobilizar e se preparar para o volume de água previsto pela defesa civil. Apesar de termos aprendido lidar melhor com a vida humana, nessas situações, ainda carecemos de procedimentos que garantam também a vida dos animais domésticos. A maior parte da população desabrigada foi destinada para lugares que não recebiam ou não estavam preparadas para receber animais. Assim, muitas dessas pessoas foram obrigadas a deixá-los. Por isso, tivemos muitos óbitos, embora não haja uma precisão estatística sobre o número.
Marcos- Foi registrado algum resgate dramático de animal?
Prhiscylla– Temos vários resgates dramáticos, cadelas e gatas com seus filhotes, resgate de peixes, calopsitas, abandonados em meio à enchente… No final todos os resgates são dramáticos e cheios de significados.
Marcos- Há risco de disseminação de zoonoses?
Prhiscylla-As chuvas possibilitam o risco de transmissão, principalmente de leptospirose, uma doença que acomete a maioria dos animais domésticos, mas tem como hospedeiro preferencial os roedores. Com as enchentes, essa bactéria, eliminada na urina dos ratos, pode ser veiculada através da água. Existem outras zoonoses que podem incorrer do abrigo irregular de animais como sarnas e infestações parasitárias (pulgas, carrapatos e até mesmo verminose).
Marcos- Existe algum abrigo improvisado para acolher esses animais?
Prhiclylla- No UniBH trabalhamos acolhendo animais recolhidos pelo Grupo de Resgate de Animais de Desastres (GRAD). Nossas instalações são destinadas para animais que necessitam de cuidados médicos. No entanto, diante da emergência, alteramos o funcionamento para abrigar esses animais. Cabe ressaltar que a estruturação de abrigos temporários deve ser pensada de maneira a garantir o bem-estar animal. Por isso, sugere-se que as pessoas não tomem essa providencia sem intervenção de um veterinário.
Marcos- Se identificados, esses animais serão encaminhados para seus tutores?
Prhyscilla– A maioria dos animais recebidos pelo hospital veterinário foram identificados com esse propósito. Cerca de sete deles já reencontraram seus donos. Na impossibilidade de os tutores receberem esses animais, estamos encaminhando para lares temporários até que possam recolhê-los. Animais abandonados serão destinados para adoção.
Marcos- Há alguma estratégia de ação previamente estabelecida em relação aos animais quando acontece esse tipo de coisa?
Prhyscilla-O ideal seria destiná-los para um abrigo, mediante risco ambiental. Basicamente deveríamos estruturar estratégias similares aquelas que empregamos para seres humanos.
Marcos- Há ajuda financeira por parte de órgão públicos?
Prhiscylla– Nenhuma. Graças a Deus podemos contar com uma ampla rede de apoio de pessoas sensíveis e caridosas que contribuíram com doações de diversas naturezas.
Marcos- Que informações além destas devem ser passadas para a mídia?
Prhiscylla– O hospital veterinário do UniBH tem grande orgulho do trabalho social que tem entregue para a sociedade desde a sua inauguração. Temos trabalhado com muito empenho e amor para que toda forma de vida seja respeitada. Como uma entidade privada, sem auxílio de verbas públicas, temos limitações em atender todas as demandas da população carente. Por isso, estruturamos a maior parte de nossos programas através de projetos de extensão e com ONGs parceiras. Isso é importante para o bem-estar e cuidado com os animais.