Denise Stéfani Max


Mão na Massa

Uberabense de nascimento, Denise da SUPRA, como é mais conhecida, morou em São Paulo por algum tempo. Trabalhou como corretora de imóveis e chegou a começar um curso de odontologia. Mas sua atenção sempre voltada aos animais venceu, até porque, esse cuidado exige tempo. Sim, Denise nunca enxergou um animal doméstico como se ele fosse uma “coisa” para se deixar “lá fora”. Sempre teve a consciência das necessidades físicas e emocionais deles. E por isto não ficou na contemplação da vida deles, lamentando as tristezas e enaltecendo a “belezura” dos bichinhos. Colocou a mão na massa. Partiu pra briga em defesa dos abandonados, maltratados, sofridos por todas os tipos de intempéries e crueldade. De São Paulo, onde morava, trouxe muitos para Uberaba e chegou a pensar que por aqui não encontraria abandono. Estava enganada. Aqui começou sua verdadeira luta e por seu trabalho tornou-se um símbolo do que é a Proteção Animal. Muitas vezes polêmica, Denise sabe que “estar bem na foto” nem sempre significa que os animais também estarão. E é realmente por eles o seu trabalho. Foi presidente da SUPRA, Organização Não Governamental (ONG) em Uberaba-MG que atualmente abriga quase mil animais e hoje é vereadora. É impressionante o carinho genuíno que ela consegue ter por todos. Inacreditável? Vai lá ver. E ajudar, principalmente, porque ajuda para um trabalho desses sempre é bem recebida.

“Talvez o que tenha feito as pessoas despertarem pra esse tipo de trabalho (Causa Animal) tenha sido a minha perseverança na defesa dos direitos dos animais…”

Marcos Moreno– Denise, você foi a primeira pessoa a ficar conhecida em Uberaba como protetora de animais. Quando começou esse trabalho você já pensava em uma ONG?
Denise Stéfani Max– Marcos, acho que fiquei conhecida em Uberaba após participar de inúmeros programas de rádio como por exemplo o do radialista Moura Miranda- 7 Colinas. Nesses programas cobrava das autoridades e esclarecia a população sobre duas coisas primordiais: primeiro, controle populacional de animais através da castração em massa e combater o abandono. Uma outra coisa que acredito que tenha contribuído para que eu ficasse conhecida eram as feirinhas de adoção que sempre fazia e faço ainda na Praça Santa Rita e é claro, as inúmeras denúncias feitas por mim ao canil do Centro de Controle de Zoonoses e as atrocidades cometidas aos animais, após, serem capturados pela “carrocinha”. Outro fato também que pode ter contribuído para que eu ficasse conhecida, foram os resgates de animais doentes que viviam perambulando pelas ruas de Uberaba. Eu não conseguia acreditar que a minha cidade que tanto eu amava, não cuidava dos animais em situação de abandono. Isso, me chocou muito após ter voltado para Uberaba, depois de ter morado por anos em São Paulo.
Em São Paulo, eu já participava de um ONG de proteção animal e quando voltei para Uberaba não tinha a pretensão fazer parte de nenhuma ONG, pois o meu único objetivo daquela época era regatar, cuidar e salvar o maior número de animais abandonados e doentes. Prova disso, foi que trouxe comigo de São Paulo 50 animais recolhidos das ruas. A viagem foi longa e cansativa, pois tínhamos que fazer várias paradas e verificar se os animais estavam bem. No carro comigo, vinham os cães menores e no caminhão os maiores. Chegando a Uberaba fomos para uma chácara, perfeita para os cães.
Ao chegar aqui, criei uma expectativa enorme sobre a causa animal em Uberaba. Acreditava que na minha cidade natal não haviam animais abandonados. Mas, andando pelas ruas, percebi que os uberabenses também maltratavam e abandonavam seus animais. Só para esclarecer a Associação Uberabense de Proteção aos Animais foi fundada em 06 de setembro de 1996 e eu não fazia parte da diretoria da SUPRA. Inclusive quando retornei para Uberaba, a ONG estava inativa e só passei a fazer parte da SUPRA tempos depois, após, reativá-la. Mas, não era minha pretensão no primeiro momento ser presidente de uma ONG.

Marcos – Antes de você, naturalmente existiam pessoas que faziam algo parecido. Mas foi você que despertou muita gente para esse trabalho. Poderíamos classificar esse trabalho como se fizesse parte do terceiro setor?
Denise- Claro que antes de mim existiam várias pessoas que cuidavam de animais em situação de abandono, mas, não era tão divulgado como atualmente.
Talvez o que tenha feito as pessoas despertarem pra esse tipo de trabalho (Causa Animal) tenha sido a minha perseverança na defesa dos direitos dos animais e em cobrar das autoridades mais seriedade no quesito, políticas públicas de proteção animal.
É muito gratificante verificar que o meu amor pelos animais tenha despertado nas pessoas, o espirito de solidariedade e paixão pelos nossos irmãozinhos não humanos.
Sobre se o nosso trabalho como protetores fazer parte do terceiro setor, posso afirmar que, sim. Pois, todas as organizações privadas sem fins lucrativos prestadoras de serviços públicos (popularmente chamadas de ONG’s), fazem parte do terceiro setor. Além do mais somos uma empresa que temos muitas obrigações como qualquer outra e sem nenhuma isenção, o que dificulta ainda mais nossas despesas. Desse modo, podemos afirmar por exemplo que, a SUPRA faz parte do terceiro setor sim, pois enquadramos plenamente nesse setor. Isso porque, a Supra e tantas outras ONGs voltadas para pet são organizações privadas, não governamentais e sem o objetivo de lucro.
Vale ressaltar que, fazer parte do terceiro setor não é considerado menos importante. Embora o termo “terceiro setor” seja o mais utilizado no Brasil, é importante afirmar que essa divisão pode transmitir uma ideia equivocada, a de que o primeiro setor teria mais importância que o segundo, e o segundo mais do que o terceiro.

Marcos- Uma ONG destinada à proteção animal, como a SUPRA, tem que ter um quadro de funcionários fixos e remunerados para manter o funcionamento. Quantos profissionais tem a SUPRA?
Denise– Fui presidente voluntária da SUPRA até início de outubro de 2013. Quando assumi a vereança outubro de 2013, deixei a presidência voluntária, mas, não como voluntária, prova disso é que continuo a morar na SUPRA.
Como voluntária, uso 80% do meu salário como vereadora, para ajudar a pagar as despesas da ONG. A ONG não tem funcionário fixo, pois os encargos trabalhistas são caríssimos. Os Voluntários que temos são pouquíssimos, mas compromissados com a causa. Dentre os voluntários assíduos temos, dois veterinários que nos dão suporte para os animais debilitados e os que ficam doentes.
A ONG conta ainda com 2 diaristas para os finais de semana e um para a noite que vem duas vezes na semana para ajudar a cuidar dos Suprinhas. Pois é humanamente impossível ficar a noite sozinha cuidando de mais 900 animais. Nas outras noites tenho tido ajuda de voluntários para pernoitar já que na minha idade e para a minha própria segurança não posso dar ao luxo de ficar mais sozinha, durante a noite.
Um outro motivo por não conseguir pagar funcionário e devido aos gastos com clinicas veterinárias, medicamentos de uso contínuos para os animais doentinhos e também pelo alto preço das rações. Só este ano o saco de ração aumentou 3 vezes e a prefeitura não repassou ainda essa diferença para a ONG. Então, como a SUPRA não vai prejudicar os animais, está pagando essa diferença até que o poder público ajuste o repasse para a ONG. Outra despesa que a Supra tem, mensalmente e que vem aumento muito é com alimentação dos animais em situação de rua. Pois a cada dia aparece mais cães e gatos nos locais onde coloco ração e água.

Marcos- Quando você começou a carreira política?
Denise– Marcos, antes de 2012 (eleições gestão de 2013 a 2016) muitos partidos tinham me convidado para ser candidata, mas, nunca me interessei. Mas, em 2012 o meu grande amigo Eduardo Ferro que na época era presidente do PR (Partido da República) convenceu-me a ser candidata a vereadora. Sendo assim, comecei a minha carreira política em 2013 quando assumi a vereança onde estou até a presente data e se Deus quiser continuei se for eleita, até 2024.

Marcos- Você acaba causando muita polêmica com o seu trabalho e pelo fato de ter se elegido vereadora por causa dele. Estava preparada para enfrentar isto?
Denise- A única coisa que não estou preparada e nunca estarei são as injustiças. Preparada psicologicamente nenhuma pessoa está, mas, nós protetores e ambientalistas temos que nos controlar para não prejudicar o nosso trabalho que é muito desgastante. As vezes causo polêmica quando cobro do poder público os direitos dos animais. Isso eu não meço esforço, e se preciso vou até as últimas consequências para defender os pets. Doe a quem doer!

Marcos- Desde que começou essa pandemia de coronavírus você tem andado pelas ruas tentando acudir os animais abandonados. Qual é a realidade deles nesse momento?
Denise- A situação dos animais durante esse período de pandemia está sendo muito triste a desgastante para todos nós protetores, pois muitas famílias estão abandonando seus pets por falta de condições financeiras ou porque estão voltando, para suas cidades de origens porque perderam o emprego. Os locais onde coloco comida na rua, o número de abandonados aumentou muito o que tem onerado os gastos da ONG. O que estou fazendo é resgatar as cadelas no cio, castrando-as e doando na medida do possível.
As cadelas prenhas e paridas também na medida do possível vão para lares temporários e assim que os filhotes estejam mais fortes e vermifugados vão para adoção e a mãe castrada.
Mas, realmente está muito complicado, principalmente porque faço parte do grupo de risco e mesmo assim, procuro acompanhar de perto e ir nos lugares onde a situação é mais complicada porque estão em locais de difícil acesso e no meio do nada.

Marcos- Tenho ouvido você dizer em suas lives sobre sua preocupação com sua idade e por isto pedindo às pessoas mais consciência. Você ainda vai longe com seu trabalho, se Deus quiser, mas tem alguém que a possa substituir caso você precise se afastar para cuidar de você?
Denise- Marcos, ninguém é insubstituível, mas peço muito a Deus que ele me dê muita saúde pra continuar nessa minha missão que não é fácil. Sou do grupo de risco e sei que será muito complicado para mim se eu for contaminada pelo Covid. Todos os dias, eu agradeço a Deus por mais um dia de vida, pois, tenho muitos animais que precisam ainda de mim.
Mas se acontecer alguma coisa comigo e precisar de me afastar, sei que os Suprinhas não ficarão desamparados.

Marcos-Para as pessoas que se envolvem nesse tipo de trabalho, é muito difícil separar a paixão da razão?
Denise– Realmente para muitos protetores é quase impossível separar paixão e razão. Pois, para um protetor é muito difícil ignorar um animal em sofrimento e não o resgatar. Então, somos mais paixão do que a razão. Só que, essa paixão, muitas vezes foge do nosso controle e quando percebemos estamos com muitos de animais. Mas tentamos também ter razão, principalmente quando se trata dos direitos dos animais.

Marcos– Você acredita que essa pandemia vai mudar valores de consciência dos humanos em relação aos animais?
Denise- Eu pensei que a pandemia fosse transformar o homem em um ser mais humano e menos (des)humano. Mas infelizmente, percebi que muitas pessoas se tornaram menos sensíveis com relação aos animais, pois o número de animais abandonados cresceu consideravelmente nessa pandemia e olha que não foi só por problemas financeiros.

Marcos- Quer deixar um recado para os seguidores do blog?
Denise- “A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem” – Arthur Schopenhauer. Essa frase é uma das mais verdadeira que tenho conhecimento. Pois, conhecemos uma pessoa quando ela respeita e ama os animais. Desse modo, posso pedir a todos os humanos que respeitem, amem e tenha compaixão pelos nossos irmãozinhos não humanos que estão em situação de rua porque alguém os colocou nessa situação. Eles não são de rua.
Não gosto de dar conselho e nem tão pouco recado para os meus seguidores, porque gosto de mostrar as minhas ações, aquilo que faço com muito amor e paixão.


		

4 Respostas

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *