Caça, petiscos e brincadeiras… Especialistas explicam o que passa na cabeça dos animais durante o sono
Todo tutor já tirou uns minutos do dia para apreciar o sono de seu peludo. Seja entre cochilos tranquilos ou mais agitados – com direito a rabos se movimentando e alguns espasmos – é uma graça assistir os animais descansando. Mas você já parou para se questionar o que passa na cabeça deles durante o sono?
A mente humana, em partes, ainda é uma incógnita para a comunidade cientifica. Existem diversas teorias, mas nem todas são consenso entre os profissionais. Na medicina veterinária, a discussão também abre espaço para interpretações e linhas de pensamento divergentes. Entretanto, há algo em comum entre as teses: o R.E.M (Rapid Eye Movement), movimento rápido dos olhos, em português.
“Já foram realizadas pesquisas em bichos capazes de confirmar que, em certos momentos, suas atividades cerebrais se comportam de maneira análoga a de humanos enquanto sonham”, garante Gustavo Augusto Keusch, médico-veterinário e docente no curso de Medicina Veterinária da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
Viviane Guyoti, professora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi, explica que, assim como nós, os pets possuem cinco fases possíveis de sono. A primeira os permite continuar atentos ao mundo exterior e, assim, gradualmente, entrar em estados cada vez mais relaxados até chegarem à última parte do ciclo.
“No início, eles são capazes de responder aos estímulos, contraindo os ouvidos quando ouvem sons e abrindo os olhos se percebem algo por perto. Já no estágio dois, a atividade das ondas cerebrais se torna mais rítmica, a frequência cardíaca diminui e a temperatura cai para que eles realizem a transição entre o sono leve e o profundo, na terceira fase. Depois de atingi-la por completo, na quarta, os animais finalmente chegam ao R.E.M, quinto estágio, quando o corpo está no grau máximo de relaxamento”, relata Viviane.
Ela conta que todos os mamíferos, exceto o tamanduá, passam pelo estágio R.E.M do sono. Curiosamente, os predadores costumam passar mais tempo nesta fase do que as presas. Isso porque eles sabem que não serão predados no período em que dormem, enquanto os outros precisam seguir em estado de alerta para proteger suas vidas.
Viviane explica que os gatos apresentam, por instinto, comportamentos que teriam na natureza, na qual seriam predadores. “Eles recebem uma explosão de energia no início da manhã e no pôr do sol, horários crepusculares, que seriam os períodos de caça em seu habitat natural”, diz.
No século 20, um fisiologista chamado Michael Jouvet se propôs a descobrir o que acontece nos sonhos dos bichanos. Após inativar a parte do cérebro que auxilia o relaxamento muscular durante o sono R.E.M, o pesquisador percebeu que os gatos apresentavam comportamentos de caça enquanto dormiam, o que reforça a teoria de que os pets sonham com brincadeiras, captura e perseguição de presas, entre outros.
É na R.E.M que os sonhos mais ativos e “vivos” acontecem. Por isso, fique tranquilo se seu bicho demonstrar agitação corporal ou vocalizar enquanto dorme, este é um comportamento natural do corpo pela atividade cerebral intensa.
“Nestes momentos, o ideal é não acordar o pet. A intervenção do tutor deve ser feita apenas se a agitação sair do controle a fim de acalmá-lo. Outra forma de contribuir com o sono do pet é oferecer um ambiente silencioso e escuro, sem nenhuma fonte de iluminação”, tranquiliza Gustavo.
Além de proporcionar relaxamento, uma boa noite de descanso é garantia de bem-estar para os animais. A privação pode causar não só problemas comportamentais, como também de saúde. É no período da noite que o corpo trabalha liberando hormônios importantes para bom funcionamento do organismo. Sem isto, os bichos podem apresentar distúrbios relacionados ao estresse, como alterações de pressão arterial, complicações cardíacas e hormonais.