Gilda Cardoso de Oliveira, Thaise de Oliveira Assis, Jurandir César Beraldi

Mais Dog Menos Lixo

Thaise de Oliveira Assis

Servidora pública formada em enfermagem, Thaise de Oliveira Assis sempre teve um olhar legítimo para as questões que envolvem a causa animal. Na busca por socorro, resgate, lar e outros cuidados com os animais não mediu esforços e assim se viu envolvida em várias frentes de trabalho voluntário nesse segmento. Sua mãe, Gilda, técnica em enfermagem, também é servidora pública. Gilda sempre se incomodou com o descarte de lixo, seu destino e as consequências desse contexto. Conheceram Jurandir, simpatizante de ambas as causas e todos começaram a pensar em alguma forma de unir o útil ao super útil. Com vistas ao agradável, no caso o Meio Ambiente mais limpo, animais cuidados e trabalho pra muita gente. Assim criaram o projeto Mais Dog – Menos Lixo. Trata-se de um projeto novo que consiste em arrecadar reciclados, podendo com isso conseguir e reverter os recursos adquiridos para a castração de cães comunitários ou resgatados. Um trabalho difícil, ainda com resultados não tão expressivos se pensarmos quantitativamente, mas que pode e pretende crescer e se tornar mais abrangente. O blog procurou ouvir os idealizadores do projeto para tentar entender um pouco mais dessa iniciativa.

“Esse Projeto está com a documentação em andamento para se tornar uma ONG e com certeza fará toda a diferença em relação ao meio ambiente, a causa animal, a economia e o desemprego”

Marcos Moreno– Thaise, desde quando você tem esse olhar de empatia pelos animais?
Thaise- Cresci em meio aos animais, mesmo morando no centro de São Paulo. Meus pais sempre nos proporcionaram contato com vários bichos. Na minha casa existia cachorro, coelho, jabuti, pássaros, aquários entre outros diversos animais. Mas sempre tive uma empatia maior com os cachorros. Após algum tempo morando em Uberaba, tive o prazer de conhecer a Alessandra Piagem “do Abrigo dos anjos”, hoje vereadora, mas naquela época me envolvi em diversos eventos que faziam para arrecadação de dinheiro para manutenção da ONG. Desde então, meu envolvimento com resgastes e outras formas de ajuda aos animais de rua só tem aumentado. Eu acredito que cada pessoa tem uma missão, uma dedicação e com certeza os animais são a minha! O sentimento de conseguir ajudar um serzinho de luz desses, não tem preço para mim.

Marcos– Gilda, o que mais a levou a realizar esse projeto?
Gilda– Em primeiro lugar o incômodo enorme de ver todos os tipos de resíduos depositados para coleta no município de Uberaba, sem qualquer critério, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente, sem nenhuma preocupação com os gastos gerados para recolher e enterrar todo o lixo produzido diariamente, que hoje gira em torno de 350 toneladas. Juntando a grande preocupação com a quantidade de animais abandonados pelas ruas da cidade, sem nenhum tipo de programa de castração ou assistência fornecidos pela administração pública do município.

Gilda Cardoso de Oliveira

Marcos- Jurandir, antes de iniciar esse projeto, no dia-a-dia o descarte de lixo chegava a te incomodar?
Jurandir- Muito, a falta de consciência ambiental da população de Uberaba é aterrorizante. Estamos em contato com pessoas de todas as classes sociais e todas elas têm dificuldade em separar os resíduos, o que é lixo , material orgânico e o que pode ser reciclado. Incrível que em pleno século XXI, com tanto acesso a informação as pessoas ainda “jogam tudo fora”.

Marcos– Thaise, você é enfermeira e está cursando medicina veterinária. Qual foi sua primeira escolha?
Thaise- A minha primeira escolha sempre foi veterinária, porém ainda era um curso de difícil acesso, mensalidades altas e período integral que não me permitia trabalhar. Consegui fazer Enfermagem através de bolsa integral e tenho muito orgulho da minha profissão e dos profissionais da área que conheço, porém, infelizmente é uma profissão extremamente desvalorizada e sem o reconhecimento merecido. Optei por iniciar outro curso por esses motivos e por também entender que quero seguir o caminho dos animais. Hoje as mensalidades estão mais acessíveis e existe o curso no período noturno, possibilitando a conciliação com minhas outras atividades. Espero me formar e conseguir ajudar mais animais com a minha profissão, sem desvalorizar os demais profissionais da medicina veterinária.

Marcos– Gilda, você se inspirou em algum trabalho que você já conhecia para pensar na realização desse projeto?
Gilda– Não, apesar de conhecer projetos que recolhem tampinhas plásticas e lacres de alumínio como forma de renda para alguns tipos de causas, a minha preocupação com o meio ambiente era que eu não enxergava esses atos visando 100 % o meio ambiente. Na concepção do Mais Dog- Menos Lixo pensei não somente em arrecadar dinheiro mas também recolher tudo que pode ser reciclado, evitando assim o aumento do volume do aterro sanitário, a poluição do meio ambiente, do efeito estufa e a economia na quantidade de lixo que a prefeitura paga para enterrar diariamente, nas castrações realizadas pagas integralmente pelo projeto e ainda aumentar e melhorar as condições de trabalho das 54 famílias da COOPERU que tiram seu sustento dos reciclados.

Marcos- Jurandir, como é a rotina da sua atividade no projeto?
Jurandir-Minha rotina é coletar os materiais, ajudar a separar, tudo dentro da nossa disponibilidade de horários. Faço o trabalho de divulgação e ajudo na parte financeira com os gastos do projeto, dividimos as despesas com panfletos, brindes e a locação do depósito.

Jurandir César Beraldi

Marcos– Thaise, você pode quantificar quantos animais já foram beneficiados com por esse projeto?
Thaise– O projeto existe há sete meses e até a metade do mês de Setembro castramos 33 animais, todos com dinheiro 100% arrecadado de reciclados, de materiais que estavam indo direto para o aterro sanitário! No início conseguíamos castrar dois cães ou gatos por mês, atualmente a média tem sido de dois animais por semana.

Marcos– Gilda, você percebe que as pessoas, de um modo geral, se preocupam com o descarte de lixo e entendem essa proposta?
Gilda- No município de Uberaba, não há coleta seletiva, não há trabalho de conscientização da população em relação a isso. Pouco se sabe sobre reciclagem, muito menos se preocupam com o grande impacto que o descarte incorreto de resíduos causam ao meio ambiente.

Marcos- Jurandir, o que descartamos mais erroneamente no nosso dia-a-dia?
Jurandir– Vidros, 99% da população de Uberaba não sabe que vidro pode ser reciclado.

Marcos– Thaise, você tem parceria com alguma clínica ou veterinária? Pergunto porque os custos com animais não são baixos.
Thaise- Sim, existem alguns profissionais na cidade que entendem e auxiliam muito os protetores. Atualmente o Veterinário José Carlos, parceiro do nosso projeto é quem tem mais ajudado nos casos de animais de resgate ou/e comunitários. Mas sempre contei com muita ajuda financeira de familiares e amigos. E agora usamos 100 % da verba conseguida com a venda dos reciclados. Quando a intenção é boa tudo se ajeita e “dá certo”!

Marcos- Gilda, se esse projeto estivesse inserido no trabalho de uma ONG, que vantagens poderia ter?
Gilda- Esse Projeto está com a documentação em andamento para se tornar uma ONG e com certeza fará toda a diferença em relação ao meio ambiente, a causa animal, a economia e o desemprego. Um único movimento que gera uma corrente de benefícios enorme. E, gostaria muito que os protetores individuais e ONGS se juntassem a nós em prol do bem comum. São coisas tão importantes para o planeta que não vejo razão para egos inflados ou uma certa concorrência. Precisamos unir forças sempre!

Marcos– Jurandir, já aconteceu de acharem alguma coisa de muito valor descartada por descuido?
Jurandir– De muito valor não, mas encontramos inúmeros materiais que poderiam ser reaproveitados, como por exemplo livros, vasos, brinquedos, panelas de alumínio e outros tipos de vasilhames.

Marcos- Thaise, dá pra ter uma noção do quanto uma castração pode evitar na multiplicação de cães de rua, por exemplo?
Thaise– O cenário dos cães em situação de rua em Uberaba é extremamente precário, recebemos muitos pedidos de ajuda de cadelas que entram no cio e passam por situações deploráveis com os machos buscando cruza, gerando briga entre eles e consequentemente machucados. Essa fêmea se não for castrada irá parir nas ruas, os filhotes não conseguirão lares e acabam entrando no mesmo ciclo. Existe uma estimativa de que um casal de cães gera em média 12 filhotes ao ano, gerando em 10 anos o total médio de 80 mil animais.
Fonte: http://www.celebridadeviralata.com.br/blog

Marcos– Gilda, qual é a porcentagem de lixo que se recicla em Uberaba? E no Brasil?
Gilda– No município de Uberaba recicla-se algo em torno de 5 % dos resíduos produzidos. No País não é diferente, fica também em torno dessa porcentagem. É um absurdo quando comprovamos que a administração pública de um modo geral, paga pra enterrar produtos que podem gerar renda que poderia ser usada para diversos fins.

Marcos– Quantas famílias se sustentam pelo trabalho com reciclagem de lixo em Uberaba?
Gilda– São 54 famílias na Cooperativa local, mais inúmeros catadores independentes que rodam à cidade fazendo o serviço que deveria ser obrigação da administração pública, lembrando que nenhuma dessas pessoas recebe qualquer tipo de auxílio da administração pública.

Marcos– Thaise, Gilda e Jurandir, a separação de lixo pra reciclagem, o projeto de castração de animais domésticos e outros nesse sentido, são trabalhos que não é pra serem pensados agora. Já deveriam existir. Vocês acreditam que há ainda uma chance para esse planeta?
Gilda– Sim, a reciclagem como prevenção do meio ambiente e ao mesmo tempo uma forma de gerar renda e empregos para à população, somando a isso, a castração de animais domésticos como preocupação de saúde pública na prevenção de zoonoses. Tudo isso já deveria fazer parte há anos de todas as esferas da administração, seja ela pública ou privada. Acredito sim, que ainda dá tempo de fazer girar esse círculo de coisas boas e a melhor forma será com um trabalho efetivo de educação e conscientização principalmente das crianças.

Thaise– Verdade, já devíamos estar discutindo esses assuntos há mais tempo. O Brasil especificamente está mais atrasado ainda nesse sentido. Mas acredito que estamos progredindo de maneira rápida de alguns anos para cá. A cobrança dos consumidores está aumentando e as industrias têm se adaptado a essa nova demanda. Acredito que ainda há chance sim, devemos focar nas novas gerações, a educação ambiental é necessária desde a base.

Jurandir– Apesar de toda mobilização, propagandas e divulgação para que se cuide do meio ambiente, por ser cultural no país o descarte incorreto de resíduos, temos muito a caminhar.

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