Em decisão história, a Coreia do Sul decidiu proibir o tradicional consumo de carne de cães, medida que será implementada em 2027. A lei prevê uma penalidade de até três anos de prisão ou multa de cerca de US$ 22.800 dólares para quem criar ou abater cães para consumo humano.
Esta medida representa uma mudança significativa nas práticas culturais do país, onde a carne de cão se tornou impopular, principalmente entre os jovens.
A proibição recebeu um forte apoio da administração do presidente Yoon Suk Yeol, conhecido por seu ativismo a favor dos animais, e foi endossada unanimemente pelo parlamento.
Estima-se que, em 2022, cerca de 1.100 fazendas criavam 570.000 cães para consumo em aproximadamente 1.600 restaurantes. Com a nova lei, haverá um período de transição de três anos, incluindo suporte para que negócios afetados pela proibição migrem para outras atividades. Son Won Hak, líder de uma associação de fazendeiros, criticou a medida como uma violação da liberdade de opção profissional.
Contexto Histórico e Cultural
Historicamente, o consumo de carne de cão era visto como uma forma de aumentar a resistência durante o verão úmido coreano, mas essa prática foi se tornando rara, limitando-se principalmente a algumas pessoas mais velhas, à medida que mais coreanos passaram a ver cães como animais de estimação e a criticar os métodos de abate.
Mais de 94% dos entrevistados em uma pesquisa recente afirmaram não ter comido carne de cão no último ano, e cerca de 93% disseram que não pretendem fazê-lo no futuro.
O apoio à proibição cresceu sob a presidência de Yoon Suk Yeol, um amante dos animais que adotou seis cães e oito gatos com a primeira-dama Kim Keon Hee, também crítica do consumo de carne de cão. A legislação, proposta pelo partido do governante e apoiada de forma suprapartidária foi aprovada com 208 votos a favor e duas abstenções.
A Coreia do Sul, um país com tradições milenares, enfrentou mudanças significativas em suas práticas culturais. Historicamente, a carne de cão não era uma parte essencial da dieta coreana. No período Neolítico (6000–2000 a.C.), há evidências arqueológicas do consumo de carne de cão, mas durante as dinastias Silla (57 a.C. – 935 d.C.) e Goryeo (918–1392 d.C.), o budismo, que defendia o vegetarianismo, reduziu essa prática. No período Joseon (1392–1897), a carne de cão era considerada um deleite, reservada para dias especiais, como os dias mais quentes do verão e celebrações de aniversário de 60 anos.
Declínio Moderno
A popularidade da carne de cão na Coreia do Sul tem diminuído constantemente. Em 2019, menos de 100 restaurantes em Seul serviam carne de cão, e o número continuou a cair a cada ano. Uma pesquisa de 2022 mostrou que 55,8% dos coreanos acreditam que a sociedade deveria parar de comer carne de cão. Apenas cerca de 3,9% da população consumia carne de cão em 2018, predominantemente como Bosintang, uma sopa que se acreditava ter propriedades medicinais.
Nos últimos anos, a Coreia do Sul sofreu uma forte influência da cultura ocidental. Isso ocorreu em parte devido às bases militares americanas no país e ao fato de muitos sul-coreanos estudarem no exterior.
A indústria tecnológica e os estúdios de cinema coreanos desempenham um papel fundamental em fenômenos globais como internet móvel, animação, cinema, videogames e robótica. A influência ocidental também é evidente na culinária e na moda sul-coreanas. Pratos como pizza e cachorro-quente foram adaptados com toques locais, enquanto a moda sul-coreana incorporou estilos ocidentais com um toque próprio, influenciando a moda mundial, como no fenômeno K-Pop e eventos como KCON, que levam a cultura pop coreana para a América.
Enquanto a Coreia do Sul avança nessa direção, permanece um enclave democrático cercado por nações como a Coreia do Norte e a China, onde o consumo de carne de cão ainda ocorre.